sábado, 22 de junho de 2013

Por quê "fora Dilma"?

A presidente veio em cadeia de rádio e televisão ontem, e no meio de um discurso genérico, a única promessa "concreta" dela, foi a de usar o dinheiro do pré-sal na educação, algo que ela já tentou aprovar no ano passado e não conseguiu.

Agora, nós entendemos que outras coisas, como saúde, educação, segurança, melhores transportes, são coisas que leva tempo. Mas essas não foram as únicas revindicações dos protestos.

Outras revindicações poderiam ser executadas IMEDIATAMENTE e não é porque ela é a presidente que ela não tenha capacidade de se meter nos assuntos.

Vamos lembrar que ela é presidente de um partido, o PT, que tem em sua BASE ALIADA, maioria no congresso e no senado. É burrice imaginar que ela não tem influência sobre essa base aliada. Agora vamos lá:

PEC 37 -> você não precisa de tempo pra mandar tirar de pauta, já eram pra ter feito isso.

Renan Calheiros -> leva um discurso de 30 segundos pra ele renunciar, bastava a presidente sentar com o seu vice e resolver essa situação. Isso não vai acontecer, porque o outro aliado da Dilma, ninguém menos que FERNANDO COLLOR, quer o Renan como governador de Alagoas no ano que vem.

Genoíno, mesma coisa do Renan. Ele já poderia não só ter renunciado ao seu posto na CCJ, como também ao seu mandato deputado. Ele é do mesmo partido da presidente, isso poderia ser resolvido dentro de casa.

Corrupção ser crime hediondo, os protestos já tem 2 semanas, já teria dado tempo pra alguem fazer algum esboço de um projeto de lei, ou no mínimo botar em pauta no plenário. Nada foi feito.

Então essa é a resposta da presidente: promessas vazias, sem comprometimento algum dela (dinheiro do pré-sal é dos estados, não do governo federal), sem nenhuma articulação dela com a base aliada pra fazer o que o povo pede.

Agora, existe alguma razão pra não continuar protestando? Existe alguma razão pra não pedir a saída da presidente que tem ampla maioria com sua base de governo mas que não tem voz pra nada?

Update: não estão mais censurando o Facebook

Update: aparentemente o Facebook não está mais bloqueando tal frase. Alguns acreditam que alguns desocupados ficaram mandando essa exata mensagem e notificando o Facebook como spam, fazendo com que caísse no filtro automático do serviço.

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Eu nunca fui de acreditar em teorias da conspiração, mas agora está realmente provado que o governo brasileiro está sim trabalhando em cima do Facebook, não só pra tentar evitar novos protestos mas também para CENSURAR as pessoas.

Quer fazer o teste? Mande uma mensagem para qualquer pessoa com os seguintes dizeres:

Meu amigo general disse que a Força Nacional tá mega bem equipada, para qualquer emergência.

A sua mensagem será tratada como SPAM, você  será deslogado imediatamente e será obrigado a responder perguntas, que geralmente são de você indicar amigos em fotos.


Minha dica a todos: saiam do Facebook, vão para o Google Plus.

Gracinhas com o dinheiro alheio

Nesta última sexta-feira, 21 de junho de 2013, a presidente Dilma Rousseff se pronunciou à nação a respeito das manifestações que vem ocorrendo no país. Após uma primeira parte já esperada de exaltar os manifestantes pacíficos e condenar os vândalos, ela anunciou algumas medidas. Uma delas, foi a de usar 100% do dinheiro do pré-sal na educação. Ela anunciou outras medidas, mas esse post vai se focar nessa.

Como vocês devem se lembrar, a distribuição dos royalties do pré-sal é algo que vem gerando uma briga generalizada entre os estados. Os políticos do Rio de Janeiro e Espírito Santo estão brigando pra manter o critério de distribuição que os favorece, pelo fato de serem os estados que mais produzem, enquanto políticos de outros estados querem uma divisão igualitária.

Não vou entrar no mérito de quem está certo ou errado nessa história, mas o fato é que nenhum dos lados querem abrir mão do dinheiro pra educação. Rio de Janeiro e Espírito Santo justificam que já tem seus orçamentos e investimentos feitos pensando na entrada desse dinheiro, enquanto os outros estados querem uma divisão para crescer mais.

Ou seja, a presidente tentou jogar o povo contra o congresso para aprovar o que SÓ ELA QUER. Além disso, vale salientar: os royalties do Petróleo SÃO DOS ESTADOS. Ao jogar a bomba no congresso pra tirar dinheiro dos estados, ela se isenta da responsabilidade de investir mais em educação. Não que ela vá investir mais, mas nessa demanda atual por mais qualidade no ensino, ela se isentaria de tirar o dinheiro do bolso do governo federal.

Ela já tentou aprovar esse projeto em novembro de 2012 e não conseguiu, por uma margem pequena é verdade. Partidos como o DEM votaram contra, PT e o PC do B votaram a favor, enquanto partidos como PMDB, PSDB, PDT e PTB tiveram votações mistas.

Essa não é a primeira vez que a presidente tenta fazer gracinha com o dinheiro dos estados. Vamos lembrar de todas as reduções e isenções de IPI que o governo federal promove, seja em móveis, carros e produtos da linha branca.

Acontece que estados e municípios são donos de 57% do dinheiro arrecadado com o IPI, sendo os estados donos de 30%, os municípios de 24% e os 3% restantes, vão para um  fundo de desenvolvimento regional do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Só em 2009, os municípios deixaram de ganhar 1 bilhão de reais. Diversas prefeituras sequer conseguiram pagar os 13º salários em dia pela bruta redução no Fundo de Participação dos Municípios. Estima-se que os FPM tenha reduzido em mais de 15%.

E não para por aí! Com a crise do preço das passagens, que gerou toda essa confusão, o governo tentou colocar de novo uma lei que tira o ICMS do diesel, para reduzir as tarifas de ônibus. ICMS é um imposto ESTADUAL, ou seja, mais uma vez é a Dilma fazendo farra com o dinheiro dos outros.

É muito fácil incentivar o consumo dando descontos no dinheiro dos outros. O resultado disso é o que vemos nas grandes cidades como São Paulo, que vendeu carros novos que nem água  - mais de 700 emplacamentos por dia - mas não recebe a parcela dele em impostos desse veículos. Como esperam investimentos pra melhorar o trânsito quando se tira receita das cidades assim?

Está na hora do governo federal começar a mostrar ações REAIS, demonstrar que ele não quer somente fazer farra com o dinheiro dos outros, mas que ele também está disposto a cortar os seus gastos e reduzir a sua parcela de arrecadação de impostos.

Então era só por 20 centavos?


No começo das manifestações que tomaram conta do Brasil, eu fui um dos primeiros a ser contra. O movimento começou com ações de um grupo de origem "esquerda da esquerda", se é que podemos considerar o PT de esquerda em conjunto com manifestantes do PSTU. Até aí nada de anormal, considerando o que São Paulo já viu.

Até que chegou a fatídica quinta-feira, dia 13, quando a PM emputecida com o policial que tinha sido espancado, resolveu ter seu momento de vingança e saiu descendo o cacete em geral. A população brasileira então se revoltou e resolveu se juntar ao MPL, não só pelos 20 centavos, mas também por basicamente tudo o que eles achavam de errado.

Eu acompanhei um tanto do movimento contra o Collor, apesar de ter apenas 10 anos na época. Minha mãe tinha um escritório no centro de São Paulo e eu a ajudava por lá. Para irmos embora pra casa, pegávamos um ônibus dentro do túnel do Anhangabaú, o que fatalmente exigiria a nossa passagem pelo vale, onde acontecia os protestos. Então pude ver de perto o que era. Ao mesmo tempo que eu via um monte de pré-adolescente sem idade de voto vomitando de tanta bebida, eu vi pessoas que estavam ali lutando por um Brasil melhor.



Collor caiu e veio Itamar, depois FHC. Nesse meio tempo, tudo o que vimos eram manifestações originárias da até então esquerda do país, liderada pelo PT. E a ladainha era sempre a mesma, discursos marxistas, bandeiras vermelhas, bagunça, enfim, o de sempre.

Então veio o governo Lula e de lá pra cá, as manifestações se limitavam a causas específicas, como os direitos dos gays, pessoas a favor do aborto e afins. Mas as grandes manifestações acabaram no final de 1992, mesmo com os vários problemas que o país teve não só na era FHC quanto na era PT.

A falta de oposição no país combinada com um governo populista, fez com que as pessoas parassem de reclamar. Falar mal do governo virou tabu e a corrupção virou rotina.

O que se viu foi uma população totalmente sem nenhuma confiança em si mesma, discursos de "o Brasil é uma merda", "isso é Brasil", "o pior do Brasil é o brasileiro", entre outros, tomaram conta das pessoas.

Essa baixa estima ficou tão grave que ela afetou até as expectativas das pessoas, incentivando votos de protesto e um negativismo com tudo o que o Brasil tentava fazer. A percepção da corrupção, da péssima qualidade dos serviços públicos, da impunidade (o país da pizza) tomou conta de uma população que só reclamava nas conversas entre amigos e nas redes sociais.

Era perceptível e absolutamente normal que uma parcela da população estava descontente com o governo, porque é assim que uma democracia funciona. Por mais que eu acredito que o brasileiro ficaria feliz demais só com um governo honesto, mesmo assim esse governo dificilmente conseguiria prover todas as demandas, porque é justamente assim que a coisa funciona.


Lula que até então tinha sido o grande desabafo dos mais pobres, a pessoa que prometia ser diferente, todos os ideais da esquerda e afins, simplesmente foi mais do mesmo do que o Brasil já estava acostumado a ser. Muitos petistas que acreditavam e militavam pelo partido se decepcionaram e saíram do partido, inclusive formando outros partidos.

A parcela da população que realmente acompanhava a política, se enojou cada vez mais com os acordos políticos feitos por quem outrora se dizia completamente averso a tais tipos. Isso foi irritando muitas pessoas, não só quem já era naturalmente contra o PT como outras pessoas que confiaram e votaram no partido.

O mensalão também foi gravíssimo, deixou várias pessoas decepcionadas. E pra quem tem uma boa memória, ver o Delúbio na CPI dizendo que o mensalão não era compra de votos e sim, "apenas" um caixa 2 da campanha do Lula, começou a desacreditar completamente no futuro do Brasil. Vamos lembrar que o que derrubou o Collor, o esquema PC Farias, era justamente caixa 2 na campanha do então presidente eleito. Ou seja, tínhamos o tesoureiro do PT dizendo que ao invés de compra de votos, era simplesmente um caixa 2 de campanha. A grande diferença é que o Collor caiu em uma das maiores manifestações da história do Brasil, enquanto nada aconteceu ao Lula.



A popularidade do presidente, apoiada em assistencialismo era simplesmente grande demais e o próprio comportamento dele de destruir a oposição e sistematicamente destruir tudo o que o governo anterior tinha feito, colaborou para o cenário que vemos até hoje: um país sem oposição, sem uma voz que se levante ao que acontece por lá.

Mais recentemente, os brasileiros tiveram esfregados na sua cara, Renan Calheiros na presidência do Senado, Genoíno, que foi condenado a prisão, não só assumiu cargo de deputado como assumiu também cargo na Comissão de Constituição e Justiça, Marco Feliciano, um fundamentalista na Comissão de Direitos Humanos, o fato que depois de tantos anos, mesmo com os envolvidos no mensalão condenados, eles não estão na cadeia.

Você pode concordar ou não com o fato deles terem sido condenados, mas nunca pode concordar com o fato deles ainda não estarem presos. Isso aumentou mais ainda indignação da população em relação a impunidade do Brasil, que vai desde aos políticos até a redução da maioridade penal.

Ainda na falta de participação popular, mais de 1 milhão e meio de assinaturas foram coletadas e entregues aos senadores, pedindo a saída de Renan Calheiros da presidência do senado. O assunto então caiu em esquecimento, deixando a população mais puta da vida.

Mas então veio o dia 17 de junho de 2013. A população que se revoltou com a violência policial em São Paulo, saiu em protestos por todo o Brasil, em uma proporção que não era visto desde 1992. Os protestantes reclamavam de tudo o que achavam de errado no Brasil, desde gastos excessivos com a copa, passando pelo Renan Calheiros, passando pelos mensaleiros, passando pelas PECs malucas que o PT tenta aprovar, passando por falta de investimentos em saúde, educação e segurança, enfim... inúmeras demandas, em toda as esferas do poder,  uma vez que cada cidade tinha não só as demandas federais, como as locais, como os preços das passagens de ônibus e metrô em São Paulo.



Depois de muito tempo, eu vi brasileiros tendo orgulho de serem brasileiros. Um senso de patriotismo que estava completamente ausente, a população começou a levantar a sua auto-estima e começou a ter esperança de que toda essa realidade nojenta da classe política poderia mudar. Enquanto alguns encaram o canto do hino nacional como um patriotismo, eu encaro como um verdadeiro desabafo. A população não quer mais soltar aquelas frases de "é Brasil", "o pior do Brasil é o brasileiro", "o Brasil é o país da impunidade" e etc. Eles querem ter orgulho do país que vivem.

As demandas não são mais as mesmas. Antes elas eram por coisas que o governo deixava de fazer, enquanto hoje questionam não só a qualidade do que o governo faz, mas também a MANEIRA de como o governo faz.

Mas, vamos lembrar, as manifestações se originaram contra o aumento das passagens de ônibus e em uma demanda absurda de ônibus gratuitos. A imprensa se agarrou nisso por um bom tempo, pra tentar desmerecer essas manifestações. E políticos, como são políticos, abaixaram os preços das passagens, como uma tentativa de acalmar a população.

É aí que entra a maior nojeira dessa história toda. Lembra lá em cima, onde eu disse que o Movimento do Passe Livre era um movimento de esquerda? Pois é. A agenda dos manifestantes de reclamar de tudo o que acham errado e em que sua maioria dizem respeito ao governo federal, seja nas ações da nossa presidente, seja nas ações do congresso e do senado que é liderado por ela, essa agenda não interessa ao MPL.

Porque essa agenda mostra como a pseudo esquerda do Brasil não deu certo. E por mais que os esquerdistas de verdade tenham se decepcionado com o PT, antes eles do que... o que mesmo? A direita do PSDB? Mas direita que cria Bolsa Família, medicamento genérico, quebra patente de remédio pra dar aos pobres, que cria Pronaf entre outros programas sociais? Isso não é direita. O fato deles privatizarem e também terem programas sociais, mostram que o PSDB é de centro.

Mas o PT manteve e ampliou esses programas sociais, criou cotas em universidades, entre outras ações bem dígnas de esquerda. Mas privatizou estradas federais, aeroportos, manteve a política econômica neo-liberal... ou seja, os dois partidos são exatamente a mesma coisa.

Outro detalhe interessante, é o desespero de alguns setores da esquerda em dizer que os protestos estão sendo "roubados" por uma "extrema direita". Que extrema direita? Aquela que o Brasil nunca teve? Tem gente do MPL que está chamando os manifestantes atuais de "elite burguesa porca".

Só que essa elite burguesa porca serviu muito bem como massa de manobra pra eles exigirem a queda das passagens de ônibus. Agora que eles conseguiram isso e os protestos são contra o que eles acreditam, eles simplesmente tiram o corpo fora e começam a criticar os manifestantes atuais.



Então, o recado do MPL é que SIM, TUDO AQUILO FOI SÓ POR 20 CENTAVOS. Então eu pergunto: o povo brasileiro vai abaixar a cabeça e aceitar isso? Depois de tudo o que o povo sofreu nesses 21 anos calado, corrupção, baixa estima, agora que o povo acordou, vai aceitar simplesmente eles dizerem que foi só por 20 centavos? Vai voltar a engolir toda a merda que você vem engolindo desde 1992?

Não. O Brasil não deve aceitar ser usado por protestos ideológicos, o Brasil não deve aceitar ser usado de massa de manobra em uma tentativa frustrada de se queimar um governador, o Brasil não deve aceitar mais o que acontece lá em cima.

Eu sou contra o envolvimento de partidos nas manifestações, mas se eles tiverem que vir para ajudar o novo Brasil, que venham.

Mas que o MPL nunca mais seja aceito nos protestos, porque não se brinca com os brios e a auto-estima de um país, não se pôe em risco a vida de mais de 1 milhão de pessoas por apenas 20 centavos, não se mente pra eles falando que não é só por 20 centavos pra depois dar as costas.